sábado, 18 de setembro de 2010

Narração o que é? Como fazer?

Narração: Narrar é contar. Na narração, são apresentadas ações e personagens: o que aconteceu, com quem, como, onde e quando.

Exemplo: Medo da senhora

A escrava pegou a filhinha nascida
Nas costas
E se atirou no Paraíba
Para que a criança não fosse judiada.

Oswald de Andrade.

Nesse poema, o importante é o fato, a ação, o aconteciemento: a escrava se mata junto com a filhinha recém-nascida, para salva-la da escravidão. Repare que não sabemos como era a escrava, nem como era sua filha, nem como era o rio. O texto só atribui importância ao acontecimento em si.
Narrar, portanto, consiste em construir o conjunto de ações que constituem a história – o enredo- e relacionar essas ações às personagens – seres que praticam ou sofrem os fatos.
Toda narrativa tem um narrador : aquele que conta a história. O narrador de 1ª ou 3ª pessoa.

2Elementos básicos da narração


Quadrilha

João amava Teresa que amava Raimundo
Que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
Que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raomundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
Que não tinha entrado na história
Carlos Drummond de Andrade.

Veja que o texto fornece elementos para responder a perguntas fundamentais da narrativa:

O que aconteceu?______________________acontecimento, fato, situação
Com quem? __________________________personagem
Onde? Quando? Como? ________________espaço, tempo, modo
Quem está contando? __________________narrador

Veja como podemos reconhecer os elementos da narrativa no texto lido.

O que aconteceu? Vários desencontros amorosos.
Com quem? João, Teresa, Raimundo, Maria, Joaquim, Lili e J. Pinto Fernandes.
Onde? Quando? Como? As circunstâncias são relatadas por alto, pois, em se tratando de um poema, a preocupação dp autor é maior com o ritmo, a sonoridade e o encadeamento dos versos do que com a narração das circunstâncias em que ocorreram os fatos.
Quem está cotando? O narrador em 3ª pessoa.


Atividades

1. Com uma breve descrição do lugar e de uma personagem escreva o começo de uma história de amor ou de terror.
2. Crie uma atmosfera sugestiva, a partir da caracterização dos elementos narrativos presentes na frase:
Um homem atravessa uma rua...

Como é esse homem? Faça uma breve descrição dele. E o modo como anda, a maneira como atravessa a rua? E a rua? Como se caracteriza? Em que hora do dia ou da noite a ação se passa?

3. Escolha uma das frases abaixo e desenvolva alguns de seus elementos narrativos:
· Desligou a televisão. A imagem dos dois desapareceu. Foi dormir.
· A moça entrou na sala. O rapaz ficou perturbado.
· O telefone tocou. Eu estava no quarto. Não atendi. Tocou novamente.

4. A partir do início dado, desenvolva uma história na qual apareçam significativamente os elementos narrativos apresentados na seguinte introdução:

Nove horas. Pude ouvir seus passos na escada, no azul da noite.

5. Agora, continue o fragmento narrativo:

Sentíamo-nos como deve se sentir uma formiga ao pé de uma bota enlameada, ou subindo penosamente uma parede, lisa e alta.
Ruth Guimarães.In O conto paulista.
___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________


2.2. A fala das personagens

O discurso-ou fala- das personagens pode ser apresentado, basicamente, de três modos:

Direto, indireto e indireto livre.

Discurso direto: No discurso direto, não há interferência do narrador, isto é, o narrador apresenta a própria personagem falando diretamente. É a voz da própria personagem falando diretamente. Ela fala em 1ª pessoa.
Geralmente o narrador anuncia o discurso direto da personagem com o uso de verbos de elocução ( dizer, falar, exclamar, perguntar, responder, gritar etc). acompanhada de dois-pontos e de travessão, como no exemplo seguinte:

Largaram à noite, porque o começo da viagem teria de ser uma verdadeira escapada. E, ao sair, Nhô augusto se ajoelhou, no meio da estrada, abriu os braços em cruz, e jurou:
- Eu vou p’ra o céu, e vou mesmo, por bem ou por mal!... E a minha vez há de chegar... p’ra o céu eu vou nem que seja a porrete!...
E os negros aplaudiram, e a turminha pegou o passo, a caminho do sertão.
Guimarães Rosa. Sagarana.

Discurso indireto: No discurso indireto, o narrador interfere na fala da personagem. Ele conta aos leitores o que a personagem disse, narrando em 3ª pessoa.

Veja o exemplo:

(...) Pegou das pontas do cinto e bateu com elas sobre os joelhos, isto é, o joelho direito, porque acabava de cruzar as pernas. Depois referiu uma história de sonhos, e afirmou-me que só me tivera um pesadelo, em criança. Quis saber se eu os tinha.
(...) Missa do galo. Machado de Assis.

Discurso indireto livre: O discurso indireto livre é mais complexo. Muitas vezes, não sabemos quem está falando, se o narrador ou se a personagem. Como se dá o processo do discurso indireto livre? Como o próprio nome revela, trata-se de um discurso indireto: o narrador está traduzindo, com suas palavras, em 3ª pessoa, a fala da personagem. Porém, sem anúncio prévio, aparecem as palavras da personagem, em 1ª pessoa, no meio do discurso do narrador, como se a própria voz da personagem aparecesse permeando a fala do narrador, ou como se pudéssemos ouvir o que ela está pensando ou o fluxo de sua linguagem interior.

Exemplo:
Enlameado até a cintura, Tiãozinho cresce de ódio. Se pudesse matar o carreiro...Deixa eu crescer!...Deixa eu ficar grande!...Hei de dar conta deste danisco...
(...)
Guimarães Rosa. Sagarana.

Atividades

1- Reescreva os trechos a seguir, passando do discurso indireto para o discurso direto, seguindo o modelo:

Discurso indireto: Os alunos disseram que iam participar da passeata.
Discurso direto: a) Os alunos disseram:
- Vamos participar da passeata.

Vamos participar da passeata – disseram os alunos.

O trabalhador disse à sua mulher que precisava arrumar outro emprego.
A professora disse aos alunos que as notas da prova tinham sido ótimas.
O rapaz disse à namorada que gostava muito dela.
Os alunos perguntaram à professora se a prova estava difícil.
O pai disse ao filho que ele deveria estudar para ter uma profissão.
O jornalista perguntou ao político se ele cumpriria as promessas de campanha.

2 – Nesta atividade, você vai fazer o contrário da anterior. Vai passar para o discurso indireto conforme o modelo. Preste atenção nos sinais de pontuação.

Discurso direto:
João falou:
- Gosto muito de ler Monteiro Lobato!

Discurso indireto:
João falou que gosta muito de ler Monteiro Lobato.

Pedro falou:
- Pretendo tirar férias a partir do mês de janeiro.
Roberto disse:
- A festa de sábado foi muito boa.

Sérgio afirmou:
- Adoro passear olhando o mar.

Laura perguntou:
- Tem prova de português hoje?

Maria perguntou a José:
- Você quer viajar comigo nas férias?

Lúcia disse:
- Não gosto de ônibus apertado.

Jaime contou:
- O metrô enguiçou novamente.


2.3. Conhecendo melhor as narrativas

A seguir, você vai conhecer algumas características das narrativas:

Enredo: Seqüência de acontecimentos originados por um conflito, ou seja, por um problema que deve ser resolvido durante a narrativa. Esses acontecimentos ocorrem com determinados personagens reais ou imaginários, em um determinado lugar. O desfecho da narrativa é marcado pela solução do conflito.

Personagens: Seres reais ou imaginários que realizam as ações que compõem a narrativa. Qualquer coisa pode ser transformada em personagem: animais, objetos, seres fantásticos etc.

Para detalhar as características dos personagens e dos lugares onde a ação acontece, aparecem pequenos trechos descritivos. Veja só:

“Às quatro horas da manhã, os marinheiros avistaram terra. Estavam cansados, após uma longa viagem de 30 dias. Pararam o navio perto da praia e desceram para explorar o terreno. A praia era cercada por pequenos montes, cobertos por vegetação tropical. Tudo estava deserto e os marinheiros ficaram atemorizados com os sons que ouviam ao longe. Pouco a pouco, foram se aproximando e, de repente, viram uma cena surpreendente. (...)”

Características da história:

Personagens: marinheiros; Lugar: praia deserta; Tempo: depois de uma viagem de 30 dias; Seqüência de ações: avistaram terra, pararam o navio perto da praia, desceram para explorar o terreno foram se aproximando da praia viram uma cena surpreendente; Descrição dos personagens: cansados, atemorizados; Descrição do lugar: praia cercada por pequenos montes, montes cobertos por vegetação tropical, tudo estava deserto.

Para contar realmente uma história que tenha interesse para os que estão ouvindo ou lendo, a narrativa precisa conter um conflito e um desfecho:

- o conflito é uma oposição, um desequilíbrio, uma complicação que precisa de uma solução. Os personagens da narrativa realizam ações para resolver esse conflito;
- o desfecho é a solução final do conflito, concluindo a narrativa.

Leia este trecho:
“Hoje eu me levantei às seis horas, escovei os dentes, tomei café, dei um beijo na minha mãe e vim para a escola. Ao meio-dia, depois das aulas, vou para casa almoçar e, à tarde, vou estudar um pouco. Amanhã eu farei a mesma coisa.”

Diante dessa narrativa, qualquer um diria: “E daí? Não aconteceu alguma coisa diferente no seu dia?

Essa pergunta surgiu porque a narrativa não tem um conflito, não tem uma complicação. E, por conseqüência, não tem um desfecho, uma solução. Por isso, ela fica sem graça e sem interesse.

A seqüência dos acontecimentos deve seguir uma ordem e ter entre si uma relação de causa e efeito.

Veja estes exemplos:
“Marina estava caminhando pela rua. Como estava distraída, não viu que o sinal estava aberto. Tentou atravessar a rua, mas quase foi atropelada. O motorista do ônibus freou rapidamente, e Marina levou um susto tremendo.”


Existe uma relação de causa e efeito entre quase todos os acontecimentos do texto. Observe bem:

Causa conseqüência
Marina estava distraída. Marina não viu o sinal aberto.
Marina estava distraída. Marina quase foi atropelada.
O motorista freou rapidamente. Marina levou um susto tremendo.

“João estava jogando bola no jardim. Ao dar um chute mais forte, a bola passou por cima do travessão e bateu na vidraça da casa da vizinha. Com medo de levar uma grande bronca da mãe, ele pegou a bola e sumiu durante o resto do dia.”

Causa Conseqüência
João deu um chute mais forte. A bola passou por cima do travessão e bateu
Na vidraça da casa da vizinha.

João ficou com medo de levar bronca
da mãe João pegou a bola e sumiu.


O ponto de vista do narrador

A história pode ser contada pela própria pessoa que participou dos acontecimentos ou por uma outra pessoa que viu tudo, ouviu falar ou inventou. Desta forma, a narrativa pode ser contada pelo:
- narrador-personagem em 1ª pessoa: o personagem que participou da história narra os fatos. Ex: biografia
- narrador-observador em 3ª pessoa: alguém conta o que aconteceu sem se envolver. Esse narrador pode participar dos acontecimentos ou estar totalmente fora deles. Ele pode tomar a defesa de algum personagem ou ficar totalmente isento. Ex: lenda,fábula.

Leia estes trechos e observe os diferentes tipos de narrador.
a) “Olhei para o lado e vi tudo acontecendo. O ônibus vinha em alta velocidade e, depois de uma curva, perdeu a direção e bateu fortemente contra o muro. Os passageiros foram jogados pela janela e ficaram caídos no chão, esperando socorro.” – narrador em terceira pessoa.

b) “Estava sentado no primeiro banco e vi tudo. Depois de passar pela curva em alta velocidade, o ônibus perdeu a direção e bateu. Estávamos apavorados com a força da batida e fomos jogados na rua, violentamente, passando pelas janelas. Feridos e assustados, ficamos esperando socorro, caídos no chão.” – narrador em primeira pessoa.
Atividade


1. Mude a ordem das frases a seguir, de modo a construir uma seqüência com sentido, uma narrativa:

Dez garotas se ofereceram.
Passou todo o dia sonhando, nervoso, com o grande momento.
Rogério fez um sorteio e casou com Mariana.
Tomou banho e aprontou-se antes do café da manhã.
Rogério acordou cedo no dia do casamento.
Foram muito felizes.
Esperou uma hora, duas horas e a noiva não veio.
Rogério não se desesperou.
Pediu a sua mãe para passar a ferro o terno e a camisa.
Foi ao microfone e perguntou se alguma garota queria casar com ele.
Foi ao barbeiro para cuidar da barba e cortar o cabelo.
Eles riem muito quando se lembram daquele dia.
Às seis horas da tarde, entro no carro e foi para a igreja.
Cumprimentou todos os amigos e parentes que esperavam na porta.

2. A narrativa apresentada na atividade 1contém os principais elementos de uma história:

- enredo (seqüência de ações, com um conflito e um desfecho)
- personagens
- informações sobre os lugares e os momentos da ação
- narrador em terceira pessoa
- falas dos personagens em discurso indireto

Vamos conferir? Responda as seguintes perguntas, para preparar um resumo da narrativa:
a) o que aconteceu? e) por que aconteceu?
b) Com quem aconteceu? f) qual foi o resultado? Ou qual será a solução?
c) Onde aconteceu?
d) Quando aconteceu?

Depois de dar as respostas, junte-as em um texto e terá produzido um resumo da narrativa da atividade 1.

3. Identifique, nas frases abaixo, a parte que corresponde à causa e a parte que corresponde à conseqüência. Veja o modelo:

A criança ficou doente porque apanhou chuva na escola.


Conseqüência Causa

a) O avião caiu porque houve um erro do piloto na hora da aterrissagem.
b) Como eu não sabia o caminho, fiquei dando voltas e não achei o endereço de Maria.
c) O velhinho começou a tremer porque levou um susto enorme.
d) O gato correu atrás do rato e conseguiu afugentá-lo.
e) O avô colocou o netinho no chão porque ele pesava muito.
f) Quando ele tropeçou na casca de banana, levou um tombo enorme.
g) O vento afugentou as nuvens e o céu ficou azul.

4. Crie uma continuação para cada uma das narrativas a seguir. Não se esqueça de imaginar um conflito e um desfecho para cada uma. Se possível, acrescente uma pequena descrição para cada personagem:

a) Joaquim saiu de casa pela manhã a caminho da escola. Ao virar uma esquina, encontrou Carlos e...
b) Roberto vestiu sua melhor roupa, pegou sua bicicleta e saiu para a casa da namorada. Ao chegar na porta, tocou a campainha e recebeu a seguinte notícia...

Coordenação de Currículo
Dianópolis, TO, Brazil

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